23 janeiro 2009

2009 : O ANO DA VIRADA !


O vazio incomoda. O vazio nos deixa atônitos, preocupados, reflexivos. O vazio nos traz o silêncio; e o silêncio, a ansiedade.


Semana passada, optei deliberadamente pelo silêncio. Não escrevi coluna. Penso que não escrever também é escrever alguma coisa. Lembra-me um poema de Arnaldo Antunes, chamado Página Branca. Arnaldo começa o poema dizendo: “Eu apresento a página branca”.


Pois é. Nesta entressafra proporcionada pelo futebol após o término do Campeonato Brasileiro, tudo que se viu (e se vê) é especulação, intermináveis rodas de discussão sobre esse e aquele reforço, pretensas precognições sobre quem vai ganhar isso, quem vai ganhar aquilo etc.


Tudo isso, a gente sabe, faz parte do folclore do futebol. Antigamente uma resenha esportiva era um comentário após o jogo. Hoje temos canais com programações inteiras dedicadas ao esporte bretão, e é preciso preencher os espaços editoriais das 24 horas do dia com matérias e fatos, “casos e causos”. Senão vejamos: a Nike “patrocina” as aventuras do Ronaldo ex-fenômeno, todo dia, nos principais telejornais do país. A mídia mostra o jogador combalido, afundado em seus multiquilos e suas pluritoneladas, apostando que ele será gênio. Dia desses vi o ex-zagueiro Antonio Carlos esbaforido em um programa desses, dizendo que o brasileiro não respeita seus ídolos, que “esqueceu o futebol do Ronaldo” etc. Há uma indignação com isso. Os mesmos comentaristas esquecem que certos mitos são criados também por causa desse povo e dessas pessoas que hoje os esquecem. A torcida corintiana, por exemplo, está apaixonada e alucinada, lotando estádios para ver Ronaldinho e sua barriga em campo. Onde estão os enxovalhadores do Ronaldo, apontados pelo coleguinha Antonio Carlos? Foi a torcida ou foi o próprio Ronaldo quem esqueceu seu futebol numa dessas esbórnias por aí?


O problema, a meu ver, é outro. Os meios de comunicação, sabe-se lá por que, têm seus queridinhos. Vi um jogo do Milan dia desses em que Ronaldinho Gaúcho e Kaká não estavam jogando nada. Pato era o único que criava situações no ataque, praticamente sozinho. Seedorf atrapalhava e errava tudo. Lá no meio, Beckham fazia seus lançamentos em profundidade. E o comentarista, provavelmente de mal com o espelho, começou a perseguir o inglês, dizendo que ele era invenção, que isso, que aquilo. Nessa onda de comentaristas deslumbrados, Kaká é o melhor do mundo (isso não existe, o que existe é o "melhor da Europa" , atentem para o fato), Juan é um grande zagueiro, Ronaldo vai emagrecer e fazer vários gols pelo Corínthians e (pasmem, até isso eu li!) Reinaldo, contratado pelo Botafogo, foi "o melhor reforço apresentado pelo futebol do Rio". Credo!Como se vê, comentarista brasileiro gosta de jogador ruim, feio, gordo e fora de forma. De preferência com a assinatura-rabisco da multinacional nefasta. É isso.


Para não me juntar a essa multidão que fala muito despropositadamente, calei-me na semana passada. Pelo compromisso assumido com o blog e com os leitores, voltei hoje.


O que querem que eu fale do Vasco? Já não sei. Há quem queira saber de política, quem queira que o circo pegue fogo, quem queira falar de rebaixamento, culpado daqui, culpado dali etc. Vi o amistoso de domingo passado e gostei do que vi. Pela primeira vez ,desde o treinador Hélio dos Anjos, o Vasco mostra um time que ousa armar sua defesa sem recorrer à baixaria dos três zagueiros. Pela primeira vez em muitos anos, um time com cara de time, não de palhaçada de treinador embriagado: lateral jogando na lateral, zagueiro jogando na zaga, um time organizadinho em campo. Falta entrosamento, faltou um homem de área, faltou o Carlos Alberto lembrar que futebol é jogo coletivo. Mas, fora isso, quem naquele time é pereba ou não sabe conduzir a bola? Claro, toda regra tem uma exceção: Amaral parece “carregar o piano” naquela meiúca. Continua tosco, sem habilidade. Mas compôs bem o setor, ajudando a marcar e cobrindo a subida dos laterais. Ótimos laterais! Paulo Sérgio e Ramon deram consistência no meio, saída de bola pelos lados do campo e mostraram presença no ataque. Podem fazer mais, devem melhorar, claro que não foram brilhantes. Mas mostraram produtividade, consciência, conhecimento de causa.


Acho que dois jogadores nos surpreenderão: Jeferson e Pimpão. O primeiro é um meia muito habilidoso, de belo toque de bola, com uma visa de jogo muito acima de seus congêneres. O segundo tem personalidade, não foi decisivo no jogo, mas mostra até nas entrevistas que não é daqueles amarelões que andaram vestindo a camisa do Vasco nos últimos anos. Acho que precisávamos de alguém inteligente e decidido, com força de espírito e de palavras, como Rodrigo Pimpão demonstrou ser. Além dele, Carlos Alberto também tem desempenhado bem esse papel de assumir o discurso, encarar a imprensa e os torcedores, dando respostas firmes, olhando com olhar firme para seus interlocutores. Ano passado, naquele grupo canceroso, nos ressentíamos disso. Quando alguém vinha dar entrevista, ou ficava no papo furado ou detonava um colega. Hoje vemos um grupo fechado, conciso, querendo alcançar alvos.


Bem, entrei também no campo especulativo. São as impressões que fiquei após o jogo de domingo passado.


Na verdade, ando meio enjoado. Os programas são tão baba-ovo, os comentaristas me parecem tão sem ter o que falar (faço menção honrosa a Alex Escobar, do SporTV, raríssima exceção, equilibrado e muito inteligente sempre) e falando tanta besteira, que tenho ficado quieto. Só disse o que disse porque vi o Vasco jogar. O que relatei nas linhas acima foi fruto de minha observação.


Não devo ir ao jogo de sábado. Não acho que serei mais ou menos vascaíno se for ou se não for. Minha relação com o clube não depende disso. Quer dar um tempo a mim mesmo e ao Vasco para entender, afinal, em que pé estamos com relação aos nossos adversários.


Sábado passado, num bolão à queima roupa, apostei que o Vasco teria reais chances, pela força do Dorival e pela necessidade de mostrar serviço de ser campeão carioca.


Pura especulação de torcedor. Mas eu acredito.

Juro.

Esse negócio de futebol é um tiro no escuro!


CADÊ A BASE?


Venho dizendo há algum tempo que estamos sem uma boa geração de vencedores nas categorias de base. De vez em quando alguém alardeia um jogador como gênio, mas a verdade é que a dupla Fla-Flu reina soberana nas divisões de base, sobretudo nos Juniores. Há anos o Vasco não arruma nada. Para piorar, acabamos de sair pela janela da Copa São Paulo de Juniores. Sei do esforço da nova diretoria em contornar esse problema. Wilsinho “xodó da vovó” conversou comigo em São Januário sobre o assunto, revelando algumas estratégias da nova diretoria. O Vasco começa a ficar forte quando tem uma boa base para revelar craques do futuro.


MUTRETA MAL DISFARÇADA


Quem foi que disse ao Rafael que ele é um goleiro intocável? Numa fase em que o time inteiro naufragava, ele estava com a número 1 na pele. Mostrou-se melhor que os companheiros, mas tomou gols bisonhos em falhas de goleiro que não sabe sair, como naquea piaba contra o Vitória. É um dos rebaixados que também não devia continuar no grupo, já que fui francamente favorável ao "extermínio" daquela equipe, à exceção das jovens (eu disse jovens) pratas da casa. Concordo com Tiago: Rafael beneficiou-se de uma daquelas campanhas indigestas que o churrasqueiro birrebaixado (maldita Nova Ortografia, mas é assim que se escreve agora!) promovia contra os jogadores de que não gostava, e o churrasquento só colocava Tiago para jogar quando o time estava todo desprotegido, para queimar seu filme. Aliás, é digno da pior das piadas portuguesas um jogador ser contratado por ter sido artilheiro cobrando faltas na temporada anterior e não ser cobrador oficial do time com NENHUM dos treinadores com que trabalhou ano passado.


Toda essa situação fez Rafael pedir aumento de salário. E o Fluminense, como tem feito nos últimos anos, ficou logo na baba dos muros de São Januário.


Parece que a noitada foi propositada para forçar a cessão ao clube das Laranjeiras. Vai embora, Rafael. Esse Fernando que vem aí te bota no chinelo! E sabe-se lá se o Fluminense ainda vai querer um jogador indisciplinado assim. Se quiser, dá margem aos conspiradores para pensarem que foi tudo combinado antes... um outro tipo de tiro no escuro, quem sabe.

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