Estava escrito que no dia 23 de junho de 1988 seria diferente para os cariocas. Uma força desconhecida dominou o Rio de Janeiro naquela quinta feira. O comércio de ambulantes da cidade registrou um movimento anormal. Nunca se venceu tanta cocada. Existia, é verdade, um motivo para a febre carioca pelo doce. O vírus havia contaminado a torcida vascaína na noite anterior, com o gol que deu ao Vasco a vitória de 1x0 sobre o Flamengo e o bi campeonato estadual.
O autor? Cocada, para alegria da irreverência carioca. Aquele petardo desferido aos 44 minutos do segundo tempo, fatal para os sonhos flamenguistas, sacudiu a pacata economia dos ambulantes. O Rio saboreou Cocada. E Cocada sentiu o doce sabor da fama, até então uma exclusividade do irmão Muller, o atacante que os italianos do Torino buscaram no São Paulo.
Ninguém, nem mesmo o técnico Lazaroni esperava que Cocada fosse transformar o maracanã num imenso tabuleiro. O competente treinador já trazia no currículo os títulos de 1986, com o Flamengo e 1987 com o Vasco. Mas nem tudo estava tão saboroso na campanha. O desempenho do time na Taça Guanabara e no começo da Taça Rio mostrou que faltava, no mínimo, uma boa dose de tempero. Nesse período, o Vasco conheceu três derrotas no campeonato. Lógico: como transformar em vitórias as discussões de Romário com Lazaroni, os constantes atrasos do atacante aos treinos, o individualismo em excesso de Geovani e as rixas dentro do elenco.
Mas a sorte do Vasco e dos vendedores de cocada começou a mudar depois da inaceitável derrota de 1x0 para o Cabofriense no dia 19 de abril. Na volta ao Rio, o goleiro Acácio e o zagueiro Fernando sentaram-se á mesa de uma Churrascaria de beira de estrada e, entre um pedaço e outro de picanha, concluíram que o grupo teria que mudar radicalmente para manter as chances de disputar o título. Romário, o primeiro alvo da “operação salvamento”, enfrentou uma tática cruel, mas necessária, para endireitar seus passos. Todas as vezes que ele chegava atrasado para os treinos era recebido com palmas pelos companheiros. O constrangimento fez surgir um Romário mais consciente e pontual. Acabaram as festinhas em horário impróprio que embalavam a turminha nova. Os jogadores mais experientes não economizaram puxões de orelha. Não demorou muito para que as vitórias voltassem á rotina do clube. A virada de 2x1 sobre o Fluminense chegou a empolgar a torcida. Era a hora de aprimorar o comportamento tático de Geovani e Romário. O meia teria de corrigir o individualismo e jogar para a equipe, ajudando na marcação por todo o gramado. O artilheiro, que parecia uma estátua perdida entre os zagueiros, recebeu e cumpriu orientação para se movimentar mais.
Outrora a pique, a nau vascaína estava pronta para abordar o inimigo que ousasse interferir em sua rota. O último a afundar foi o Flamengo, levando junto o orgulho exibido antes das finais. O esquadrão vascaino tinha enfim a posse de mais um valioso tesouro. Este Vasco de muitos talentos superou com bravura a ausência de Roberto Dinamite. A vitória do futebol solidário marcou, entretanto, o triunfo pessoal do lateral Cocada, que o destino colocou na ponta direita, nos minutos finais da partida, para fazer o gol histórico em seu primeiro contato com a bola. Logo ele, dispensado três anos antes pelo técnico do Flamengo Carlinhos, quando tentou a sorte no clube da Gávea. Sentindo-se o próprio justiceiro em sua apimentada vingança, Cocada se aproximou do banco do Flamengo e xingou Carlinhos, iniciando uma grande confusão. Ele nem ligou para sua expulsão.
Que festa! Tanto que o saudoso Chacrinha, vascaíno até a morte, poderia brincar com seus colegas portugueses e oferecer cocada em vez de bacalhau. E sairia bem ao gosto do freguês. Que o digam os felizes ambulantes cariocas daquela quinta feira gorda.
Detalhes da decisão –22 de junho de 1988.
Decisão do campeonato carioca.
Local: maracanã.
Juiz: Aloísio Viug.
Renda: CR$ 11.698.100,00.
Publico: 31.816 pagantes.
Gol: Cocada aos 44 minutos do segundo tempo.
Expulsos: Renato. Alcindo (Flamengo). Romário e Cocada (Vasco).
Vasco (campeão): Acácio. Paulo Roberto. Donato. Fernando e Mazinho. Zé do Carmo. Geovani e Henrique. Vivinho (Cocada). Romário e Bismark.
Técnico: Sebastião Lazaroni.
Flamengo (vice campeão): Zé Carlos. Jorginho. Aldair. Edinho e Leonardo. Andrade. Ailton (Julio César) e Alcindo. Renato Gaúcho. Bebeto e Zinho.
Técnico: Carlinhos.
O autor? Cocada, para alegria da irreverência carioca. Aquele petardo desferido aos 44 minutos do segundo tempo, fatal para os sonhos flamenguistas, sacudiu a pacata economia dos ambulantes. O Rio saboreou Cocada. E Cocada sentiu o doce sabor da fama, até então uma exclusividade do irmão Muller, o atacante que os italianos do Torino buscaram no São Paulo.
Ninguém, nem mesmo o técnico Lazaroni esperava que Cocada fosse transformar o maracanã num imenso tabuleiro. O competente treinador já trazia no currículo os títulos de 1986, com o Flamengo e 1987 com o Vasco. Mas nem tudo estava tão saboroso na campanha. O desempenho do time na Taça Guanabara e no começo da Taça Rio mostrou que faltava, no mínimo, uma boa dose de tempero. Nesse período, o Vasco conheceu três derrotas no campeonato. Lógico: como transformar em vitórias as discussões de Romário com Lazaroni, os constantes atrasos do atacante aos treinos, o individualismo em excesso de Geovani e as rixas dentro do elenco.
Mas a sorte do Vasco e dos vendedores de cocada começou a mudar depois da inaceitável derrota de 1x0 para o Cabofriense no dia 19 de abril. Na volta ao Rio, o goleiro Acácio e o zagueiro Fernando sentaram-se á mesa de uma Churrascaria de beira de estrada e, entre um pedaço e outro de picanha, concluíram que o grupo teria que mudar radicalmente para manter as chances de disputar o título. Romário, o primeiro alvo da “operação salvamento”, enfrentou uma tática cruel, mas necessária, para endireitar seus passos. Todas as vezes que ele chegava atrasado para os treinos era recebido com palmas pelos companheiros. O constrangimento fez surgir um Romário mais consciente e pontual. Acabaram as festinhas em horário impróprio que embalavam a turminha nova. Os jogadores mais experientes não economizaram puxões de orelha. Não demorou muito para que as vitórias voltassem á rotina do clube. A virada de 2x1 sobre o Fluminense chegou a empolgar a torcida. Era a hora de aprimorar o comportamento tático de Geovani e Romário. O meia teria de corrigir o individualismo e jogar para a equipe, ajudando na marcação por todo o gramado. O artilheiro, que parecia uma estátua perdida entre os zagueiros, recebeu e cumpriu orientação para se movimentar mais.
Outrora a pique, a nau vascaína estava pronta para abordar o inimigo que ousasse interferir em sua rota. O último a afundar foi o Flamengo, levando junto o orgulho exibido antes das finais. O esquadrão vascaino tinha enfim a posse de mais um valioso tesouro. Este Vasco de muitos talentos superou com bravura a ausência de Roberto Dinamite. A vitória do futebol solidário marcou, entretanto, o triunfo pessoal do lateral Cocada, que o destino colocou na ponta direita, nos minutos finais da partida, para fazer o gol histórico em seu primeiro contato com a bola. Logo ele, dispensado três anos antes pelo técnico do Flamengo Carlinhos, quando tentou a sorte no clube da Gávea. Sentindo-se o próprio justiceiro em sua apimentada vingança, Cocada se aproximou do banco do Flamengo e xingou Carlinhos, iniciando uma grande confusão. Ele nem ligou para sua expulsão.
Que festa! Tanto que o saudoso Chacrinha, vascaíno até a morte, poderia brincar com seus colegas portugueses e oferecer cocada em vez de bacalhau. E sairia bem ao gosto do freguês. Que o digam os felizes ambulantes cariocas daquela quinta feira gorda.
Detalhes da decisão –22 de junho de 1988.
Decisão do campeonato carioca.
Local: maracanã.
Juiz: Aloísio Viug.
Renda: CR$ 11.698.100,00.
Publico: 31.816 pagantes.
Gol: Cocada aos 44 minutos do segundo tempo.
Expulsos: Renato. Alcindo (Flamengo). Romário e Cocada (Vasco).
Vasco (campeão): Acácio. Paulo Roberto. Donato. Fernando e Mazinho. Zé do Carmo. Geovani e Henrique. Vivinho (Cocada). Romário e Bismark.
Técnico: Sebastião Lazaroni.
Flamengo (vice campeão): Zé Carlos. Jorginho. Aldair. Edinho e Leonardo. Andrade. Ailton (Julio César) e Alcindo. Renato Gaúcho. Bebeto e Zinho.
Técnico: Carlinhos.
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