Há exatamente 10 anos atrás, o time do Vasco vencia de virada, o forte time do Palmeiras, dentro do Parque antártica, que estava completamente lotado. O Vasco tinha, na minha opinião, um dos melhores times dos últimos anos . No gol, o goleiro Helton, que antes era apenas uma promessa, mas que naquela altura do campeonato já tinha se tornado uma realidade; passando pela grande revelação do ano,o lateral Clebson, que poderia ter tido um grande futuro no futebol, mas um acidente de trânsito tirou-lhe a vida. A zaga era formada por Odvan e Junior Baiano; na lateral esquerda, o espaço que antes era ocupado por Felipe, tinha um novo dono, Jorginho Paulista. No meio de campo haviam ocorrido algumas mudanças, Nasa continuava no time titular, mas agora ele tinha como companheiro o veterano Jorginho, que havia acabado de voltar ao Brasil. Na armação tínhamos uma dupla infernal, que infernizava a vida dos outros times e fazia qualquer torcedor do Vasco rir a toa, a dupla de Juninhos , o Juninho Paulista e o Juninho Pernambucano. O ataque tinha o matador Romário e o garçom Euller, o filho do vento. Esse time era bom, mas não era perfeito isso porque a parte ofensiva era uma maravilha, mas por outro lado a parte defensiva cometia algumas falhas.
Nesse jogo, contra o Palmeiras, o time do Vasco parecia estar nervoso e atordoado, também não era para menos. O técnico do Vasco havia sido demitido 2 dias antes da final, graças a uma discussão com o então Diretor de futebol, Eurico Miranda. Dizem que o motivo dessa discussão seria que Eurico não teria ficado satisfeito com o resultado da partida contra o Cruzeiro, pela semifinal da Copa João Havelange, no qual o Vasco abriu 2 a 0 e no final permitiu o empate do time mineiro dentro de São Januário. O problema é que ao não gostar do resultado, o Diretor de futebol obrigou que fosse marcado um treino para a manhã do dia seguinte do jogo contra o Cruzeiro, sendo que o jogo contra o Palmeiras iria acontecer 3 dias depois, no dia 20. Ao saber que o treino tinha sido marcado, o então técnico do Vasco, Oswaldo de Oliveira, achou melhor sair. Na verdade, não se sabe até hoje se ele foi demitido ou se ele se demitiu, mas isso não vem ao caso, o importante é que quem comandou o time nessa virada histórica e inesquecível foi Joel Santana.
O Palmeiras dominava o jogo, mas não tinha as melhores chances de gol. As melhores chances eram do Vasco. O primeiro a levar perigo foi o Vasco, logo no início, aos 8 minutos, em um chute do lateral Clebson, mas Sergio, goleiro do Palmeiras, fez uma ótima defesa. Poucos depois, o Palmeiras quase abriu o placar em uma falta cobrada pelo lateral Arce, a um passo da marca do pênalti. Aos 32, o Vasco perdeu a sua melhor chance de abrir o placar em uma jogada que envolveu as duas cabeças pensantes do time, Juninho Paulista e Juninho Pernambucano. Juninho Pernambucano chutou, o zagueiro Thiago Silva do Palmeiras rebateu, mas a bola bateu em seu calcanhar e foi para o outro lado, sobrando limpinha para Juninho Paulista fazer o gol, mas ele chutou fraco e acabou perdendo o gol. A partir desse momento prevaleceu uma das maiores máximas do futebol, quem não faz leva.
Aos 34 minutos, o zagueiro do Vasco, Junior Baiano acabou fazendo um pênalti infantil ao colocar a mão na bola dentro da área: pênalti para o Palmeiras. O pênalti foi cobrado pelo lateral e capitão Arce, que com toda a sua experiência não teve nenhuma dificuldade para abrir o placar. Pouco depois o Vasco sofreu o segundo gol e o time parecia perdido dentro de campo. Mas isso iria mudar radicalmente no segundo tempo. Aos 38, o atacante Tuta, do Palmeiras, fez uma bela jogada e sem mais delongas chutou para o gol ; o goleiro Helton rebateu, mas a bola acabou nos pés do meia Magrão, do Palmeiras, que fez o 2º gol. Aos 45 minutos, o Palmeiras fez o terceiro com o atacante Tuta. Depois disso, a maioria das pessoas achou que o Vasco já tinha perdido o jogo, inclusive eu.
No intervalo, pensei seriamente em ir fazer outra coisa e nem ver o segundo tempo, mas acabei pensando melhor e resolvi ver o segundo tempo, afinal o Vasco é o time da virada.
O Vasco mudou completamente no segundo tempo, tudo mudou. O time parecia mais atento e empenhado em levar esse titulo para o Rio de Janeiro, para poder dedicá-lo ao ex treinador Oswaldo de Oliveira. Para não correr riscos e ganhar o jogo, Joel Santana foi obrigado a tirar o volante Nasa e colocar em campo o experiente atacante Viola .
Vale ressaltar, que durante o intervalo, a torcida do Palmeiras já dava o titulo como certo e chegou a gritar: “É campeão!” durante o intervalo, mas um dia eles vão aprender que o jogo só acaba quando termina.
O Vasco poderia ter diminuído o placar, se o juiz não tivesse ignorado um pênalti claro, em cima do atacante Euller, que levou um ponta-pé dentro da área. Pouco depois, aos 13 minutos, o Vasco começou a reagir quando um pênalti foi marcado em cima de Juninho Paulista. Romário cobrou e fez. Após fazer o gol, Romário pegou a bola de dentro do gol e colocou-a novamente no centro de campo, para que o Palmeiras recomeça-se o jogo. O Palmeiras parou de atacar no segundo tempo, preocupando-se apenas em se defender, acreditando que os 3 gols do primeiro tempo, já lhe garantiam o titulo. Mas esqueceram-se que do outro lado tinha um baixinho, em noite inspirada, um time com garra, raça e até mesmo sorte de campeão.
Aos 24 minutos, o juiz percebeu que tinha se equivocado ao não marcar um pênalti para o Vasco aos 7 minutos do 2ª tempo e acabou decidindo marcar um pênalti que não aconteceu para o time da Colina. Esse pênalti nasceu de uma bela troca de passes entre Juninho Paulista e Romário. O Baixinho cobrou o pênalti, fazendo o Vasco diminuir a vantagem palmeirense.
Algo me dizia que nós não iríamos sair do estádio derrotados, mas sim consagrados e com uma das viradas mais impressionantes do futebol. Quando tudo parecia bem, eis que o zagueiro Junior Baiano, que já tinha cartão amarelo, fez uma falta boba e acabou sendo expulso, sendo assim além de estar atrás no placar, o Vasco ainda tinha um jogador a menos. Isso poderia fazer com que toda a situação criada no segundo tempo pudesse ir por água a baixo, mas não, a expulsão do defensor cruzmaltino só fez com que esse jogo se tornasse épico, tanto para os torcedores do clube de São Januário como para os Palmeirenses. Mas, nesse caso, os torcedores do time paulista prefeririam que esse jogo nunca tivesse acontecido.
Aos 41 minutos, Romário acabou cometendo seu único erro na partida. A bola foi lançada para ele, que estava dentro da área, ele tocou de calcanhar e todos imaginavam que a bola fosse parar com algum jogador do Palmeiras, mas não, a bola sobrou nos pés do meia Juninho Paulista, que com um chute forte empatou o jogo . A partir desse momento, duvido que algum vascaíno não tenha se ajoelhado, pedindo para que, pelo amor de Deus, o Vasco vencesse aquela partida. O time do Vasco merecia vencer aquele jogo, por tudo que havia acontecido dentro e fora de campo, naquela semana.
Para muitos, o lance mais inesquecível do jogo foi protagonizado aos 45 do segundo tempo. Esse lance vai ficar para sempre marcado na história do Vasco da Gama. A torcida do Vasco, que tinha ido ao jogo, estava quieta, calada e impressionada com tudo que estava acontecendo dentro de campo, e antes de cobrar um falta, na frente da torcida vascaína, o meia Juninho Pernambucano bateu no peito, demonstrando toda a garra e toda raça que aquele time tinha naquela quarta feira de Dezembro. Ele pediu para a torcida gritar, e o “reizinho da Colina” foi rapidamente atendido pelos seus súditos, que estavam no Parque Antartica.
Aos 47 minutos tudo parou, faltavam apenas 2 minutos para o fim do jogo e todos já pressentiam que a final da Copa Mercousl de 2000 iria para os pênaltis. Entretanto sabíamos da capacidade e da genialidade de Romário e prevíamos que ele poderia mudar esse final, que parecia ser trágico, um final com lágrimas de tristeza e decepção, para um final com lágrimas de alegria. Viola fez uma linda jogada, driblou três jogadores e tocou para um dos melhores jogadores da partida, Juninho Paulista que chutou, a zaga do Palmeiras tirou a bola, mas no final ela procurou o craque da Colina, que com um leve toque na bola colocou-a no fundo das redes do Palmeiras. A partir desse momento, uma alegria imensa tomou conta do estádio, do Rio de Janeiro, do Brasil e quem sabe até do mundo.
Sempre que nos lembrarmos de Vasco e Palmeiras, ou até mesmo quando alguém se lembrar de uma virada histórica, esse jogo será lembrado. Pode-se passar 10, 20, 30, 40 ou 50 anos, mas esse jogo ficou para historia do Clube de Regatas Vasco da Gama e nunca será esquecido, nem por seus torcedores e muito menos por quem estava em campo, naquela noite de 20 de dezembro de 2000.
Muito obrigado Clube de Regatas Vasco da Gama por protagonizar a virada mais inesquecível do futebol. Até o momento, nunca tinha sido visto uma virada como esta.
Até o próximo domingo,
Sumula do jogo:
Data: 20.12.2000 (Quarta) às 21h45min.
Competição: Copa Mercosul (Final - 3º Jogo).
Estádio: Parque Antártica, em São Paulo (SP).
Árbitro: Márcio Rezende de Freitas (MG), auxiliado por Jorge Paulo Oliveira Gomes (DF) e José Carlos Silva Oliveira (RS).
Público: 29.993 pagantes. Renda: Não divulgada.
PALMEIRAS: Sérgio, Arce, Galeano, Gilmar e Thiago Silva; Fernando, Magrão, Flávio e Rodrigo Taddei; Juninho e Tuta (Basílio 31' do 2º). Técnico: Marco Aurélio.
VASCO: Hélton, Clébson, Odvan, Júnior Baiano e Jorginho Paulista; Nasa (Viola, intervalo), Jorginho (Paulo Miranda 31' do 2º), Juninho e Juninho Paulista; Euller (Mauro Galvão 42' do 2º) e Romário. Técnico: Joel Santana.
Elisa de Vicq de Souza Dantas
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