04 dezembro 2010

Um Exemplo Digno

O ano vai se aproximando do seu fim. E com ele, nos preparamos para um período de entressafra do futebol brasileiro. Não haverá notícias sobre a equipe, treinos, contusões, experiências com jogadores etc. Tudo isso dará lugar ao noticiário sobre entradas e saídas de jogadores, cujo saldo final será o plantel que disputará, e esperamos com conquistas, os torneios em 2011. Será um período curto, por que não dizer sabático. Tanto para os dirigentes e comissão técnica quanto para os torcedores. Será o momento de revirar as memórias e avaliar o que foi feito, o que não se deve voltar a fazer e o que faltou fazer e que cabe em 2011.

Há algumas semanas, exatamente quando o Vasco realizou o amistoso contra o Santos, na Paraíba, foi recorrente a notícia da intenção de sair por parte do nosso goleiro Tiago. De pronto, até podemos criticá-lo por tornar isso público, mas muito mais por causa de nossa paixão do que por sua conduta.

Recordo-me que Tiago chegou num momento extremamente péssimo para qualquer profissional. Uma autêntica “furada”. Time em baixa, sem auto-estima, tecnicamente fraco e um tormento para as esperanças do até mais otimista dos torcedores. Culminou com o rebaixamento. E, lógico, nas últimas partidas sobraram fagulhas para Tiago, que acabou barrado do time como se culpado fosse, mesmo que parcial, pela tragédia que se desenhara.

Ao final de 2008, a partir daquela não menos óbvia e conclusiva partida contra o Vitória, em São Januário, teve-se a impressão de que a Colina transformara-se num campo de batalha dias após o combate, quando se vê, ao longe, caminhando sem rumo, somente os que restaram com vida, maltrapilhos, lesionados, com olhares desesperançosos e apoiados uns nos outros. Assim que Dorival Júnior chegou, viu os tais sobreviventes maltrapilhos, que somavam somente 7. Dava pena ver a que ponto chegara um grande clube. Mas aquela era uma realidade.

E nesse grupo dos maltrapilhos, no fundo do poço, lá estava Tiago. Algumas notícias deram conta de que tivera oportunidade de sair para outro clube. Não sei, não tenho certeza disso. Mas se assim foi, mais um ponto pra ele, pois acreditou no ressurgimento de um gigante.

Ano terminado, outro iniciado, página virada. Tiago recebeu a oportunidade de iniciar o ano como titular, enquanto Fernando Prass se integrava ao grupo. E não decepcionou. Num time mais arrumado, e com vontade de defender o Vasco, os gols que tomara no ano anterior já não aconteciam com a mesma frequência. A média de gols sofridos baixou consideravelmente. Suas defesas e regularidade marcaram presença no campeonato carioca de 2009. E não considero digno culpá-lo pela tragédia contra o Botafogo, naquela semifinal, quando perdemos de 4 x 0, e só não foi mais exatamente pelo seu esforço. O placar foi o resultado mais apropriado para a apatia da equipe, não sua.

Por coincidência, antes da estreia na série B, Tiago machucou-se seriamente e ficou afastado por um bom tempo. Foi quando Fernando Prass mostrou sua competência e não desperdiçou a oportunidade, pois sabia que Tiago era um forte concorrente e qualquer descuido o recolocaria na equipe titular. Mas tão logo voltou a treinar, Tiago não mais teve chance. Não houve uma sequer. Prass não deu brecha. E só jogou nas duas últimas partidas da série B, quando o Vasco já era o campeão e os jogadores mais aparentavam clima de fim de festa. E esse ano só teve chance mesmo nas oportunidades que não tinham relação com qualquer campeonato.

Mas foi nesse período como reserva que Tiago mostrou o seu verdadeiro caráter como pessoa, como homem e como profissional. Escolheu como número de camisa, o “50”, em homenagem à mãe e à sogra. Pode parecer tolo, mas é uma prova de apego à família. Nos jogos, não raras as vezes, Tiago chamava a atenção pela sua presença à beira do campo. Não era apenas um reserva. Gritava com os companheiros, reforçava instruções do treinador (e foram vários), apoiava, torcia e chegou até a “assumir” a comunicação entre o treinador ausente (por expulsão) e o auxiliar que permanecera no banco. Quando ganhamos do Santos (de novo?), em São Januário, e o time saiu de campo em um abraço único, Tiago foi o primeiro a entrar correndo no campo para abraçar efusivamente Fernando Prass e jogar-lhe água como se champanhe fosse, brindando um campeão de fórmula 1.

Nunca li qualquer nota de jornal ou ouvi qualquer comentário nas rádios, dentro do noticiário esportivo, falando que Tiago “não aceita a reserva” ou “exigiu uma oportunidade” ou “está desestimulado para treinar”. Ele sempre fez a sua parte, quieta e respeitosamente. Isso traduz dedicação profissional, comprometimento e, acima de tudo, espírito de equipe. Tiago honrou verdadeiramente a camisa do clube que o acolheu, sempre demonstrando respeito por ele e acreditando, mesmo nos piores momentos, na sua capacidade e em dias melhores.

Mas Tiago, por tudo isso, não deixa de ser a sua razão de trabalho: ele é um profissional. E nesse aspecto, goleiro que não joga não evolui. E ele, sabendo de seu potencial, não quer isso. Por mais que se identifique com o Vasco, não pode ficar passivo quanto à reserva. Ele quer se ver estimulado, dentro do campo, participando ativamente das campanhas de sua equipe. Ambicionando melhorar. E nessa hora, pesa a decisão que poderá tomar, mas reconhece que é para o seu próprio bem profissional.


Caso Tiago decida pela saída, gostaria de deixar registrado que sua passagem pelo Vasco, por tudo que escrevi aqui, já está positivamente marcada, e não faltará torcida (ao menos a minha) para que o sucesso sempre o esteja acompanhando. E se permanecer (possibilidade viável após manifestação de Rodrigo Caetano durante essa semana) nada mudará nessa minha opinião. Desejo para ele que nunca se deixe desviar em tão honrosa e exemplar conduta. Que continue sempre acreditando em dias melhores e, principalmente, esteja sempre preparado para quando for solicitado. Somente nessas horas prevalecerá a sua competência e o seu potencial. Tiago merece.

Tenham um bom dia.

“Todo vascaíno tem amor infinito”

J. K. Dimas

PS: Este texto foi escrito Terça passada (30/11/10). Coincidentemente, Rodrigo Caetano declarou na Quinta, portanto depois do texto escrito, sobre a grande possibilidade de renovação de Tiago bem como também ressaltou suas qualidades, todas mencionadas aqui. Vale, assim, o registro do reconhecimento.

6 comentários:

  1. Não chego a colocar em dúvida suas palavras. Mas acho bom salientar o salário do jogador. Rebebe bem, em dia, joga num clube de expressão, etc.
    Não creio que seja bom negócio pro Vasco manter um jogador com salário tão alto como ele. Deviam dar vaga pra um jogador da base. Se caso o Prass se contundisse, aí sim, poderíamos pensar em contratar alguém com mais experiência.

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  2. Tiago é um goleirão!
    Sorte do Vasco em tê-lo como parte da esquadra.
    Tomara que ele permaneça firme e forte, pois sua chance vai chegar.
    Brados

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  3. o Tiago é lindo *-*
    e ainda por cima é um excelente goleiro :)

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  4. muito bom esse goleiro, o melhor do Brasil (H)'

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  5. mt gostoso ele (K)'
    levo pra casa ein (6)

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