Invariavelmente nos deparamos com aquele questionamento se o que vale é obter a vitória ou a certeza de que, especialmente nas derrotas, uma atuação irrepreensível ou dotada de elogios traduz o verdadeiro objetivo do futebol. Esse debate é capaz de expor as mais variadas opiniões decorrentes daquilo que cada um de nós realmente mais aprecia, mas uma resposta concisa e uniforme ainda está longe de ser obtida.
Certa vez, em um debate ao longo de um programa esportivo, onde participavam jornalistas e alguns ex-jogadores, esse confronto de opiniões foi lançado e gerou pontos de vista que sempre guardaram alguma razão pelos fundamentos apresentados. A maioria acabou vertendo para a corrente daqueles que acreditam que jogar bem é o objetivo maior do futebol. Afinal, ninguém quer assistir a uma pelada, e sim a um jogo de futebol. E hoje o que se vê é um futebol comum, competitivo, bruto, tornando a raridade do bem jogado um prazer sublime, capaz de extasiar e colocar qualquer outro aspecto em segundo plano e satisfazer uma carência dos que velam o belo.
Mas o que é esse “futebol competição” de hoje tão evoluído ao largo das últimas décadas? A preparação física de um jogador de futebol dos dias de hoje equipara-o a um verdadeiro e bem composto atleta, que alçado a essa condição acabou sendo resgatado da condição de simples jogador. Sua explosão muscular resume anos de preparação, alimentação e suplementação vitamínica. Sua capacidade física e aeróbica consegue impressionar até mesmo os que praticam esportes olímpicos, tais como atletismo ou natação. A média de espaço percorrido por um jogador durante uma partida, dependendo ainda da sua função na equipe, representa percentualmente um crescimento de algumas centenas em relação aos que jogavam na primeira metade do século XIX. Acabou o futebol se tornando “quadrado”, previsível, tático. A habilidade tão comum no passado, hoje é rara, pois poucos são preservados de serem transformados em robôs, justamente por serem as promessas diferenciadas que podem se transformar em realidade posteriormente.
Mas o futebol atrai pelo que é e pelo que proporciona. Envolve pessoas que torcem por seus clubes, assistem aos jogos de outros ou meramente preenchem seu tempo tendo o futebol por simples programa regado pela satisfação em si de acompanhar o esporte. Nisso, surgem as figuras do admirador e do torcedor.
A figura do admirador de futebol representa aquele que realmente assiste futebol por ser futebol. Sem emoções arraigadas ou tendenciosas, consegue ver lances e deles extrair detalhes técnicos ou curiosidades; avaliar o rendimento de jogadores e as equipes como conjuntos distintos; e pode ser contemplado com um jogo de razoável técnica que satisfaça suas expectativas ou não, pois aquilo que era pra ser um prazer pode acabar se tornando um suplício caso esteja diante de uma daquelas “peladas”. E isso é o que ele menos deseja.
Já a figura do torcedor representa aquele que está unido ao time pela paixão. Geralmente não consegue identificar jogadores, mas o seu time como um conjunto de jogadores, os quais serão sempre venerados ou idolatrados — até que venham a jogar em um time rival —, e a certeza de que sempre lá estará para torcer, chova ou faça sol. A vitória do seu time, além de dar-lhe a sensação de prazer, possibilita utilizá-la como um argumento forte para as provocações e brincadeiras de amigos. Muitos afirmam que isso é a mola-mestra que faz girar o mundo apaixonante do futebol. Sem vitória, a alegria fica cortada. Parece faltar alguma coisa, uma parte de si. E se o time jogar bem? De nada vai adiantar no caso de não vencer, quando restarão somente lamentos. Jogou mal? Não importa. A vitória “ofusca” o indesejado desempenho. E jogue bem ou jogue mal, o torcedor sempre assistirá às partidas até o fim, fazendo o que realmente mexe com sua paixão: torcendo pela vitória.
O Vasco vive momentos que exemplificam essa ideia do torcedor. Nas últimas rodadas vimos o clube patinar entre o 9º e 11º lugares, ressurgido do 19º quando o campeonato parou para a Copa do Mundo. Pela tabela diriam uns: “o time é razoável”. Pelo que vimos em campo, diríamos: “está jogando bem — exceção pequena ao último jogo contra o Atlético-GO em que não manteve o nível — e até melhor que muito time que briga na parte de cima da tabela”. Mais especificamente depois de enfrentar o São Paulo no Morumbi e não ter dado um chute ao gol sequer. Mas, os resultados finais não agradaram. Bobeiras individuais, perto do término das partidas, permitiram que abríssemos mão de mais de dez pontos que seriam a razão de estarmos brigando lá na ponta de cima da tabela. Com 49 pontos estaríamos na faixa de 3º e 4º lugares. Hoje, os torcedores só lamentam e até se irritam quando percebem que o time faz boas partidas, mas não evolui na tabela, já que o que mais importa mesmo não foi conseguido: vitórias.
Diante de tudo isso, podemos inferir que para os que são admiradores, uma boa partida representa satisfação — tal como se fossem ao restaurante escolhido e de lá saíssem com suas expectativas atendidas — enquanto que, para os que são torcedores, a vitória é o que certamente trará a alegria maior, deixando pra depois as avaliações sobre se jogou bem ou não. E concluo que no tal debate que mencionei, a maioria falava como se fossem admiradores. Caso fossem torcedores, certamente teriam chegado a uma opinião distinta. E nós, vascaínos, não estamos nem aí para jogar bem ou não. Só depois de conquistar os três pontos é que vou enaltecer a forma que meu time jogou. Queremos é estar sempre lá, seja lá onde for, mas que certamente todos querem estar: na liderança da tabela.
Vale lembrar que em 74, nosso time jogou os play-offs do brasileiro contra nada mais nada menos que Santos (ainda com Pelé), Cruzeiro (aquela máquina com Dirceu Lopes, Nelinho, Piazza, Palhinha, Joãozinho) e Internacional (Manga, Figueroa, Capegiani, Falcão, Valdomiro, Escurinho etc.). Todos com potencial muito superior ao Vasco para conquistar o título. Mas quem ganhou foi a raça, a disposição, a humildade e enorme vontade do grupo vascaíno. Futebol bonito ficou por conta deles enquanto a taça ficou com a gente.
Tenham um bom dia.
"Todo vascaíno tem amor infinito"J.K.Dimas
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